Cidades
Publicado em 30/05/2025, às 08h14 Dani Oliveira
Mais brasileiros estão recorrendo à internet para lidar com questões de saúde. É o que aponta um estudo recente do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ), que revela que pelo menos seis em cada dez brasileiros utilizam a web para buscar informações sobre sintomas, tratamentos e medicamentos.
Em 2022, 63% dos entrevistados afirmavam usar a internet para esse fim. E, em 2024, o índice oscilou para 68%. Já as buscas por informações especificamente sobre remédios saltaram de 47% para 53% no mesmo período.
“Não há como impedir esse hábito. As pessoas têm liberdade para buscar informação onde quiserem. Mas, quando o paciente recebe uma orientação segura, baseada em protocolos clínicos e oferecida por um profissional capacitado, ele deixa de adotar práticas arriscadas e passa a usar medicamentos de forma mais consciente”, explica o farmacêutico Ismael Rosa, diretor do ICTQ.
“Isso impacta diretamente a segurança do paciente, a prevenção de agravamentos e a eficiência do sistema de saúde”, completa.
E se engana quem pensa que a automedicação é feita só por pessoas que usam medicamentos “mais leves”. O estudo do ICTQ aponta que entre os remédios mais usados sem prescrição estão os anti-inflamatórios, mas até os chamados “tarja preta”, como aqueles usados em tratamentos psiquiátricos – que exigem receita médica –, entram nessa lista, ainda que em menor escala. O risco, nesses casos, é ainda maior.
Esses medicamentos são controlados por um motivo. Uma dosagem incorreta ou o uso sem acompanhamento médico podem levar à intoxicação severa e até mesmo à morte, caso não haja um atendimento rápido”, alerta Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Diante disso, para Waltovânio Cordeiro, farmacêutico e representante do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, é fundamental que os profissionais do setor sejam preparados para orientar as pessoas.
“O farmacêutico é, muitas vezes, o profissional de saúde mais acessível à população. Por isso, ele deve orientar sobre o uso correto dos medicamentos. Além disso, os Conselhos Regionais promovem campanhas para incentivar o uso racional e consciente dos remédios”, destaca.
Prescrição de remédio por farmacêuticos causa polêmica
A Justiça Federal no Distrito Federal suspendeu a resolução número 5, de 20 de fevereiro de 2025, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que autorizava que farmacêuticos prescrevessem a clientes medicamentos categorizados como tarjados e que, em tese, exigiriam receita médica.
A medida, tomada pouco mais de um mês depois de a resolução ter sido aprovada, aconteceu porque a decisão do CFF causou polêmica, e o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um pronunciamento contra a resolução.
Ao permitir que farmacêuticos assumam essa função, coloca-se em risco a incolumidade dos pacientes, expondo-os a diagnósticos errôneos, interações medicamentosas inadequadas e até mesmo ao agravamento de patologias não identificadas corretamente”, justificou a entidade médica.
O que o farmacêutico pode realmente fazer, de acordo com o Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG), é orientar por escrito sobre os famosos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs).
“Os não tarjados ou Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) podem ser prescritos pelo farmacêutico, como forma de registro de seu atendimento, inclusive para orientação por escrito em relação ao uso desses medicamentos pelo paciente”, explica o CRF-MG em resposta ao Super Notícia.
Pode vender sem receita?
De acordo com André Vartuli, advogado criminalista, vender medicamentos sem receita, sem controle ou fora das farmácias é crime no Brasil. “O Código Penal prevê pena de até dez anos de prisão para quem faz isso. Já quem compra, mesmo sabendo que o remédio exige receita, pode não responder criminalmente, mas participa de uma prática ilegal e perigosa, é conivente com algo que põe em risco a saúde de todos”, afirmou.
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