Política

Investigação aponta que Sindicato de irmão de Lula pagava “caixinha” para amiga de ex-ministro

Documentos mostram que dirigentes do Sindnapi se beneficiaram de descontos em aposentadorias, totalizando R$ 4,1 milhões em comissões  |  Divulgação

Publicado em 18/08/2025, às 08h23   Divulgação   Dani Oliveira

Uma investigação envolvendo o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) aponta que dirigentes e familiares da entidade se beneficiaram diretamente de descontos aplicados em aposentadorias.

Segundo documentos obtidos pelo Metrópoles, pelo menos R$ 4,1 milhões em comissões foram repassados por meio da empresa Gestora Eficiente LTDA, ligada a parentes de dirigentes do sindicato. O caso integra a apuração da chamada “Farra do INSS”.

Envolvimento de familiares e aliados

Entre os beneficiados, aparecem Daugliesi Giacomasi Souza, esposa do presidente Milton “Cavalo” Baptista de Souza, e Carlos Afonso Galleti Junior, marido da diretora jurídica Tonia Andrea Inocentini Galleti. Tonia, advogada conhecida no meio previdenciário, é filha do ex-presidente do sindicato João Batista Inocentini (João Feio), morto em 2023.

Ela também integrou o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e participou da transição do governo Lula em 2022.

O papel da Gestora Eficiente

A empresa Gestora Eficiente, com sede em São Paulo, tinha a função de processar fichas de filiação e enviar os dados à Dataprev, garantindo que o sindicato pudesse receber os descontos diretamente nas aposentadorias. O modelo de pagamento era por produtividade: quanto mais associados descontados, maior o repasse para os sócios.

Em 2020, a firma recebeu cerca de R$ 340,4 mil. Dois anos depois, os ganhos chegaram a pelo menos R$ 1,08 milhão. No mesmo período, a arrecadação do Sindnapi com descontos cresceu de R$ 23 milhões (2020) para R$ 154,7 milhões (2024) — um salto de 563,9%, segundo o Portal da Transparência.

A parceria com o Bmg e os relatos de aposentados

Grande parte do aumento de associados veio da aliança entre o Sindnapi e o banco Bmg, além de sua rede de correspondentes, as Lojas Help!. Muitos aposentados relataram que os descontos do sindicato surgiram logo após a contratação de empréstimos consignados nessas instituições.

Há registros de casos em que funcionários do Bmg afirmaram que a cobrança era necessária para liberar o crédito. Em outros, os clientes sequer foram informados sobre a filiação, mas tiveram seus dados usados para autorizar a contribuição ao sindicato.

Números que chamam atenção

O contraste entre as adesões presenciais e as feitas por intermédio do banco é expressivo. Em 2022, apenas 747 pessoas se filiaram diretamente no escritório do Sindnapi, em São Paulo, enquanto mais de 106 mil novas associações vieram pelo Bmg — ou seja, menos de 1% dos filiados daquele ano foram captados sem a parceria bancária.

Relatórios também mostram pagamentos da Gestora Eficiente a outros familiares de Tonia Galleti, como Nita Gabriela Inocentini e Neuza Pereira Inocentini.

Crescimento explosivo e falta de ação da AGU

Um documento da Controladoria-Geral da União (CGU) já havia identificado a explosão de filiados: só em junho de 2023, foram 67,2 mil novos associados. Naquele mesmo ano, a seguradora Generali pagou R$ 1,4 milhão à Gestora Eficiente. Como parte das notas fiscais está ausente, os valores totais podem ser ainda maiores.

Apesar dos indícios, a Advocacia-Geral da União (AGU) não ingressou com ações contra o Sindnapi. Questionada, a pasta informou apenas que não há impedimento para que medidas judiciais sejam tomadas futuramente.

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