Política

Escândalo do INSS: o salto de um secretário da Conafer que virou dono de aviões

Silas Vaz recebeu R$ 4.050 em auxílio emergencial durante a pandemia, enquanto sua riqueza em aeronaves levanta questões sobre sua real situação financeira.  |  Silas da Costa Vaz, secretário da Conafer, é investigado por ter adquirido aviões de alto valor enquanto recebia auxílio emergencial. - Reprodução

Publicado em 20/09/2025, às 14h37   Silas da Costa Vaz, secretário da Conafer, é investigado por ter adquirido aviões de alto valor enquanto recebia auxílio emergencial. - Reprodução   BNews Natal

Um secretário da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) que, de beneficiário do auxílio emergencial há quatro anos, se tornou proprietário de aviões avaliados em mais de R$3 milhões. A entidade está sob investigação por descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS.

Morador do Recanto das Emas, no Distrito Federal, Silas da Costa Vaz, de 42 anos, vive em uma casa simples. A região, que tem uma das menores rendas per capita da capital, reforça os indícios de que ele seja um "laranja".

Sila Vaz, 42 anos. Crédito: reprodução

O secretário da Conafer afirmou que nunca comprou as aeronaves e não soube explicar o motivo de sua assinatura constar nos documentos das transações.

Silas Vaz se tornou proprietário de, no mínimo, dois aviões. As aeronaves foram compradas pelo secretário da Conafer diretamente do presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), Vinícius Ramos da Cruz. O ITT é uma ONG ligada à Conafer que recebe recursos de emendas parlamentares.

Um avião Beech Aircraft modelo 58P, de prefixo PT-OOV, foi adquirido em junho deste ano por R$ 2,5 milhões. Cinco meses antes, em janeiro, Vinícius Ramos havia comprado a mesma aeronave por R$ 1 milhão. Com a transação, o valor do jatinho supervalorizou 150% em um curto período de tempo.

As aeronaves foram compradas pelo secretário da Conafer diretamente do presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), Vinícius Ramos da Cruz. Crédito:reprodução

A segunda aeronave em nome de Silas Vaz é um Cessna Aircraft, modelo 172RG, prefixo PR-ATM. O avião pertencia ao deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), que o vendeu para Vinícius Ramos.


Antes da transação, o político enviou R$ 2,5 milhões em emendas parlamentares para o ITT , em um processo que resultou em fraude à licitação e desvio de dinheiro público.

O avião foi comprado pelo deputado Euclydes Pettersen e um sócio em janeiro de 2021 por R$ 320 mil. Em março de 2023, dois anos depois, a aeronave foi vendida para o presidente do ITT por R$ 400 mil.

Já em junho de 2025, houve outra transferência, desta vez para Silas da Costa Vaz, pelo valor de R$ 700 mil. No mês seguinte, Silas revendeu o avião a um piloto. A operação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Já em junho de 2025, houve outra transferência, desta vez para Silas da Costa Vaz, pelo valor de R$ 700 mil. Crédito: reprodução

Durante a pandemia, Silas Vaz, secretário da Conafer, recebeu 16 parcelas do auxílio emergencial, somando R$ 4.050. O benefício era destinado a famílias de baixa renda afetadas pela crise econômica causada pela Covid-19.

"Toda hora eu assino documentos"

O secretário da Conafer, Silas Vaz, afirmou que nunca comprou uma aeronave e que não sabe dizer por que os aviões estão em seu nome. "Eu não me lembro [de ter assinado qualquer documento]. Toda hora eu assino documentos", declarou.

Funcionário da Conafer há 10 anos, Silas disse que irá procurar seus advogados para entender o que aconteceu e verificar se alguém agiu de má-fé usando seu nome. "Eu assino um bocado de documentos, camarada. É isso aí eu vou ter que ver", completou.

A Conafer afirmou que a ONG não pertence à entidade, mas que, "assim como outras entidades e associações, ela faz parte do quadro de associados". A entidade acrescentou que "não pode ser proprietária de um bem que não está registrado em seu CNPJ". Já o ITT e Vinícius Ramos não se manifestaram.


O deputado Euclydes Pettersen afirmou que o avião era “monomotor no valor R$ 200 mil”. Ele disse que "só tinha 50% desse avião, que eu vendi para um empresário de Governador Valadares", negando ter feito negócios com Vinícius Ramos.

CPMI do INSS investiga Conafer

A Conafer é uma das entidades envolvidas na "Farra do INSS". Investigações da CGU (Controladoria-Geral da União) estimam que, desde 2019, a confederação arrecadou cerca de R$ 688 milhões de trabalhadores rurais e indígenas.

A Conafer é uma das entidades envolvidas na "Farra do INSS". Investigações da CGU (Controladoria-Geral da União) estimam que, desde 2019, a confederação arrecadou cerca de R$ 688 milhões de trabalhadores rurais e indígenas. Reprodução

A entidade está sendo investigada pela CPMI do INSS, que já aprovou requerimentos para quebrar o sigilo bancário de sua cúpula, acessar inquéritos policiais sobre os descontos indevidos e convocar os dirigentes a depor.

Em nota, a Conafer se defendeu, afirmando que "não figura como uma das principais associações envolvidas no esquema" e que, em maio, a Advocacia-Geral da União retirou a entidade e outras da ação cautelar.

A confederação ainda declarou que "não é correto fazer a ilação de que a receita total da entidade seja oriunda de recursos supostamente obtidos de forma ilegal".

A nota reforça que a Conafer tem "2,8 mil CNPJs filiados e 8 milhões de CPFs na base" e que "a auditoria por amostragem não corresponde à realidade da entidade. Cabe destacar que a Conafer não faz filiação de pessoas (CPF)".

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