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Rota criminosa da Faria Lima expõe crime organizado e fraude bilionária em combustíveis

A Operação Carbono Oculto atinge facções criminosas na economia formal, com 200 mandados em 10 estados e 350 investigados  |  A ação revela um esquema de lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis, com foco na Avenida Faria Lima em São Paulo. - Divulgação

Publicado em 28/08/2025, às 07h44   A ação revela um esquema de lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis, com foco na Avenida Faria Lima em São Paulo. - Divulgação   Dani Oliveira

A maior ofensiva contra o crime organizado atinge o principal, e mais famoso, centro financeiro do Brasil. A manhã desta quinta-feira (28) começou com uma das maiores operações já realizadas em todo o país contra a infiltração de facções criminosas na economia formal.
A ação, batizada de Operação Carbono Oculto, reúne Polícia Federal, Gaeco, Polícia Militar e fiscais das Receitas Federal e Estadual para cumprir 200 mandados de busca e apreensão em 10 Estados.
No alvo estão 350 investigados ligados ao domínio da cadeia produtiva de combustíveis e à lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Só na Avenida Faria Lima, coração financeiro de São Paulo, 42 empresas e fundos de investimento foram alcançados.
Esquema movimentou R$ 17,7 bilhões
Segundo as autoridades, a instituição de pagamentos BK Bank é um dos principais alvos, com movimentações suspeitas que ultrapassam R$ 17,7 bilhões. A Receita Federal calcula que o grupo criminoso sonegou R$ 1,4 bilhão em tributos federais, enquanto o CIRA/SP pede na Justiça o bloqueio de bens para recuperar mais de R$ 7,6 bilhões em impostos estaduais.
As investigações listam uma série de crimes: adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro do tráfico, crimes ambientais, fraude fiscal e até estelionato. O objetivo dos acusados seria consolidar o controle sobre o etanol, gasolina e diesel por meio da associação entre grupos econômicos e operadores ligados a Marcola, líder do PCC.
Bloqueio de usinas, distribuidoras e postos
A Justiça determinou a indisponibilidade de:
• 4 usinas de álcool em São Paulo
• 5 administradoras de fundos de investimento
• 5 redes de postos com mais de 300 endereços
• 17 distribuidoras de combustíveis
• 4 transportadoras de cargas
• 6 refinarias e formuladoras de combustível
Até mesmo uma rede de padarias aparece entre os bens investigados.
Contrabando de metanol e adulteração de combustíveis
Outro ponto-chave do esquema seria a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR). O produto não chegava ao destino declarado, sendo desviado para abastecer postos e distribuidoras clandestinas.
De acordo com o Gaeco, a prática gerava lucros bilionários à organização criminosa por meio da adulteração da gasolina.
A rota da Faria Lima
A ofensiva também mira o setor financeiro. Só na Faria Lima, estão sob investigação 14 fundos imobiliários e 15 fundos de investimento administrados por cinco companhias. Em toda a capital paulista, 21 endereços foram vasculhados, além de outros 32 em cidades do interior.
O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) lembra que o setor de combustíveis representa 10% do PIB nacional, gera 1,6 milhão de empregos e movimenta R$ 420 bilhões por ano, com R$ 130 bilhões em impostos. O poder econômico explica por que a facção buscava blindar patrimônio e expandir influência.
Principais investigados e ligações políticas
A PF aponta que o núcleo central da organização era comandado por Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Loco, e Mohamad Hussein Mourad, que teriam se aliado ao Grupo Refit (ex-Manguinhos), ligado ao empresário Ricardo Magro, ex-advogado de Eduardo Cunha.
A acusação é de que os investigados expandiram o controle sobre toda a cadeia de combustíveis utilizando recursos ilícitos e influência política em Brasília. Após a Operação Cassiopeia, em 2024, que cassou licenças da Aster e da Copape, as empresas teriam recriado estruturas para continuar operando.
Estrutura paralela e conexão com o tráfico
De acordo com promotores, novas distribuidoras, como a Arka Distribuidora de Combustíveis e a TLOG Terminais, foram abertas em Duque de Caxias (RJ) para atuar em parceria com Manguinhos.
Outras seis distribuidoras estariam conectadas ao esquema em cidades como Jardinópolis, Iguatemi e Guarulhos (SP), além de Senador Canedo (GO).
Há ainda a suspeita de ligação com o empresário Daniel Dias Lopes, condenado por tráfico internacional de drogas, o que reforça a conexão direta com o crime organizado.

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