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Publicado em 18/05/2025, às 16h56 A Polícia Federal interceptou mensagens que revelam uma trégua de sete dias ordenada pelo Comando Vermelho durante o G20 no Rio de Janeiro - Divulgação/G20 Brasil Aryela Souza
A Polícia Federal descobriu que a cúpula do Comando Vermelho (CV) ordenou uma trégua de sete dias em guerras e roubos durante o encontro do G20, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2024. A ordem foi identificada em mensagens interceptadas do traficante Arnaldo da Silva Dias, o Naldinho, atualmente preso em Bangu 3. Segundo ele, o pedido teria partido de um “representante das autoridades” fluminenses — cuja identidade não foi identificada pela investigação.
Naldinho faz parte do Conselho Permanente do CV, núcleo que toma decisões estratégicas da facção, e age como porta-voz da organização. Em um “salve” enviado no dia 22 de fevereiro, ele escreveu:
“Hoje, um representante das autoridades no Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para nós segurarmos sete dias sem guerras e roubo devido ao G20. (...) Eles demonstraram respeito por nós”.
No mesmo dia, ministros das Relações Exteriores do G20 se reuniam na Marina da Glória. A PF obteve a mensagem com autorização judicial. O comunicado original trazia uma ameaça contra quem descumprisse a trégua, mas foi reescrito após consulta ao traficante Edgar Alves Andrade, o Doca, chefe do Complexo da Penha e um dos mais procurados do estado.
Pouco depois, em 6 de março, um novo comunicado interno reforçou a proibição de crimes:
“Os roubos de carros e motos ainda continuam proibidos pela facção. Não vamos aturar mais desculpas.”
A comunicação interceptada também revela como Naldinho, condenado a mais de 50 anos por tráfico e homicídio, atua como mediador de disputas entre traficantes e organizador de atividades como rifas — entre os prêmios, estavam dois fuzis calibre 5,56. Cada número era vendido por R$ 500.
Outro destaque nas mensagens foi o anúncio da trégua e posterior aliança com a facção Amigos dos Amigos (ADA), antiga rival do CV. Em 25 de fevereiro de 2025, um comunicado dizia que havia sido estabelecida uma “sintonia de respeito”, e, dias depois, foi firmada a aliança:
“Moradores de ambas comunidades poderão transitar com passe livre. (...) Vamos esquecer o passado”.
A paz entre os grupos põe fim a mais de duas décadas de conflitos violentos desde a fundação da ADA, após um racha interno no próprio Comando Vermelho.
As mensagens também apontam que Naldinho pode ter participado do planejamento de uma tentativa de fuga em massa do Complexo de Gericinó. Em conversa com Doca, surgem indícios de que R$ 20 mil do caixa da facção teriam sido usados para escavar um túnel no presídio Vicente Piragibe, descoberto em setembro passado. Ninguém conseguiu escapar, pois a escavação não foi concluída.
A PF também descobriu que Naldinho vinha utilizando o apelido “Samuray” em aplicativos de mensagens para despistar a vigilância.
Essa não teria sido a primeira tentativa de fuga. Em 2021, foi detectado um alvará de soltura falso em seu nome, o que resultou em sua transferência para a penitenciária de segurança máxima Bangu 1.
Diante dos indícios, a PF e a Polícia Civil pediram à Justiça a transferência de Naldinho para um presídio federal. O processo ainda aguarda decisão.
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