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Kauli Seadi, tricampeão mundial de windsurf, fala sobre nova fase da vida

Descubra por que a Praia de São Miguel do Gostoso, no RN, é o local ideal para o ícone dos esportes aquáticos e o que tem de novos ventos vindo por aí  |  Kauli Seadi - o tricampeão que é ícone do windsurf mundial - Carter- PWA Mormaii

Publicado em 17/05/2025, às 22h00   Kauli Seadi - o tricampeão que é ícone do windsurf mundial - Carter- PWA Mormaii   Anna Karinna

Um lugar paradisíaco, na esquina do Brasil, onde o vendo faz a curva. Estamos falando da Praia de São Miguel do Gostoso, litoral do Rio Grande do Norte, o paraíso escolhido pelo ícone dos esportes aquáticos, Kauli Seadi. Depois de percorrer o mundo e se tornar tricampeão mundial de windsurf wave; onze vezes campeão brasileiro; além de campeão brasileiro, também, de stand up paddle e wingfoil, entre outros títulos, Kauli escolheu o litoral potiguar Gostoso, como o cantinho do mundo para montar sua base.

Hoje, além de atleta, ele também atua como empreendedor com as empresas: Bangalô Kauli Seadi Eco Resort, na praia do Cardeiro; Kauli Seadi Beach Hotel, localizado junto ao Water Sports Club; Kauli Seadi Water Sports Club, com aluguel de equipamentos e aulas para a prática de windsurf, kitesurf e wingfoil; além de restaurante e loja; loja Seadi Beach Essentials, na Praia da Xêpa em Gostoso; e Bangalô Soledade, no hotel de charme na Praia de Soledade, município de Macau RN.

Nessa entrevista exclusiva para o BNews Natal, Kauli Seadi conta tudo sobre o esporte que abraçou desde criança; como chegou ao topo como atleta; porque São Miguel do Gosto para morar e construir família; e o que tem de novidade nessa nova fase da vida.

BNews Natal: Kauli, obrigada por este bate-papo. Primeiro queremos conhecer o tricampeão mundial de windsurf, Kauli Seadi. Como você começou no wind? Quando descobriu essa paixão?

Kauli – Eu sou natural de Florianópolis, no sul do Brasil. Comecei lá na Lagoa da Conceição. Nossa casa era na frente à lagoa, então o acesso era fácil à água. Com 12 anos, mais ou menos, eu iniciei no windsurf. Me apaixonei. Fui aos 15 anos para o Havaí, com patrocínio da Mormaii, na época que foi quem conseguiu dar o salto na minha carreira, porque o Havaí era onde tudo acontecia, onde tinha os atletas melhores do mundo. Então, lá, minha carreira deslanchou, consegui patrocínio de equipamentos, pois os equipamentos eram caros. Na época, com o lance da evolução de manobras, eu quebrava muito, então eu precisava dessa reprodução com facilidade. E aí, deu um salto. Fui campeão mundial, primeira vez em 2005. Eu acho que em Forte Aventura eu ganhei a primeira etapa, se não me engano eu tinha uns 20 anos. E aí, eu ganhei depois o circuito em 2005, 2007 e 2008. Eu fui campeão geral do tour todo, de todas as etapas que rolavam em lugares diferentes pelo mundo.

BNews Natal: Começou com 12 anos, mas quando você descobriu que o wind seria mais do que um hobby e se transformaria em uma profissão?

Kauli - Então, essa transição é sempre uma transição natural, porque a minha paixão era a paixão por aprender, por evoluir no esporte, aquela fissura de praticar o esporte. Não pensava como um trabalho. A partir do momento que se torna profissional, acaba virando um trabalho, né?! Porque tipo assim, hoje eu não vou velejar, não, estou afim de passear... E não! Eu tinha a obrigação de ir para a água, porque eu tinha que treinar, eu tinha que evoluir, porque eu deveria fazer uma performance em alto nível no campeonato e, claro, atender a expectativa dos meus patrocinadores, que era vencer. Então, no final, se torna um trabalho. É cansativo. No final, você já está competindo, já está pensando se eu passar mais uma bateria, eu ganho tanto de premiação. Então, realmente, assim, no final de carreira, a gente leva muito já para um lado bem profissional, de trabalho e não tanto aquela paixão de querer curtir. Claro que tinha os dias épicos, com altas ondas, que a gente sempre estava afim de estar na água, mas também tinha aquelas condições... que, às vezes, por exemplo, eu me lembro que Ibiraquera era o lugar que eu morava e, de um lado da ilha, rolava um vento maral mexido, uma onda horrível que a gente nunca velejava e, do outro lado, era uma onda perfeita para surfar, que a gente amava. Só que as condições dos eventos na Europa eram todas voltadas para essa condição de vento maral e onda ruim. E eu tinha que treinar do lado ruim para poder ter uma performance legal no campeonato. Modifiquei o shape das minhas pranchas para se adaptar a essa condição. Então, tudo isso era parte do trabalho. Então, isso foi acontecendo naturalmente, mas eu sempre tive esse foco de evoluir e de querer ser o melhor. Isso desde o início.

BNews Natal - Tricampeão mundial e 11 vezes campeão brasileiro. Tem algum campeonato, alguma competição dessa que lhe marcou mais?

Kauli - Teve muitos eventos de wave que rolavam em Ibiraquera, que era onde eu morava. E ali foi o meu playground e foi até um dos únicos eventos que rolou mundial de winsurf nas ondas... já teve no Ceará e teve esse em Ibiraquera, que foi o que marcou, foi o último evento que aconteceu no Brasil de wave, no circuito mundial, e eu ganhei essa etapa em casa, com todos os meus amigos, isso aí foi super.

BNews Natal - Você também foi campeão mundial, em 2003, mas numa competição do Super X. Como é que foi essa competição?

Kauli - Na verdade essa disciplina ficou um tempo, eles tentaram fazer uma coisa meio com obstáculos, misturando como se fosse um motocross. Então tu largava, era como se fosse um slalom, com percurso de largada e chegada, só que no meio do percurso tu tinha boias pra pular, tinha que fazer manobra, então misturava e ficava mais espetacular, porque tinha acidentes, ela capotava, então ficava super legal de assistir. E pra mim era bom, porque em velocidade mesmo, como eu era magrinho, leve, eu não tinha a performance de velocidade que tinha o Antoine Albeau, que foi campeão de race muitas vezes, mas até eu e ele a gente decidiu até a última regata quem ia ganhar, porque tinha a história de misturar as manobras e tal, então ficou super acirrado. Esse tipo de competição foi espetacular.

BNews Natal - Não apenas pela mistura de manobras, mas também pela mistura de esportes aquáticos, você é conhecido como o waterman. Não é à toa, porque você pratica vários esportes aquáticos: wind, kite, foil...

Kauli – Gosto de estar na água mesmo...

BNews Natal - E você também ajuda a desenvolver equipamentos para os esportes, como Kauli se transformou de atleta para um desenvolvedor dos equipamentos de esportes aquáticos?

Kauli - É, isso na verdade foi uma necessidade que eu tive ao longo da minha carreira de atleta profissional, porque esse era um diferencial para ser melhor que os outros atletas. Não só eu acho que tu tem o talento, mas além do talento, essa dedicação a encontrar um equipamento que vai ter uma performance superior, né, então era a forma de evoluir. Se eu sempre velejasse com a mesma prancha eu não ia conseguir ter uma performance melhor, eu ia continuar sempre fazendo igual. E aí eu desenvolvi pranchas mais curtas, desenvolvi as pranchas de biquilha, depois de quadriquilha também, que uso até hoje, as velas mais compactas, então teve muita coisa que eu desenvolvi dentro do windsurf. Dia desses postaram, faz uns 3 dias, um vídeo, com um dos shapes mais renomados do windsurf até hoje, e ele falou “cara, teve uma competição lá em Cabo Verde em 2005, e os juízes não estavam prontos para entender o que o Kauli estava fazendo na onda”. Que era justamente essa linha, que os meus shapes das pranchas, que eu tinha um shape completamente diferente. A maioria dos atletas não conseguia andar nas minhas pranchas, porque eu tinha muita curva de roda. Era um shape muito específico. E ele fala isso: “cara, naquela época ele perdeu aquela final pro Josh, que foi super acirrada, mas os juízes se ativeram àquele critério de julgamento standard que teve a vida inteira e não quiseram arriscar em julgar o diferente”. Mas, na perspectiva dele de enxergar o que é surf, porque eu sempre trouxe muito esse lado do surf pra dentro do windsurf, e ele falou “esse diferencial e que eles não estavam prontos pra entender”. E hoje em dia eles estão buscando isso. Os juízes entenderam que o novo caminho é esse, depois que a gente implementou esse shape de prancha e aí todos os atletas foram pra essa linha. Mas naquela época eu fui o primeiro a entrar num campeonato daquele com uma prancha curtinha, com quadriquilha, com biquilha, entendeu? Que ninguém fazia essa linha, era monoquilha, umas pranchas grandes, era mais surf down the line, com aéreo, e eu fazia mais curva dentro do pocket. Então era outra pegada, né?

BNews Natal - E o foil também já é uma outra pegada e você também foi um dos desenvolvedores dessa nova modalidade...

Kauli - Aqui no Brasil eu acho que eu fui um dos pioneiros. Vou te falar que eu trouxe um foil de alumínio do Havaí em 2000. Eu trouxe um foil do Hush Handle, que era um dos caras mais top do Havaí, que droppava Jaws de foil, o Live Ramp... E eles droppavam ainda as pranchas, tinha que usar uma bota de snowboard no pé pra conseguir controlar o foil, porque era um shape ainda muito pouco desenvolvido, não tinha muita tecnologia ainda... mas a gente já conseguia andar, eu trouxe pra ele, ah, eu quero esse negócio no Brasil. Aí falei com o Moron, que era o dono da Mormaii, e eu disse vamos comprar esse lance, vamos levar ele pra gente andar. Ele respondeu tá, compra aí, traz pra gente. E aí eu pegava lá em Ibiraquera, a gente começou treinando na lagoa, aprendendo a voar, então eu sempre gostei de novidades, aprender coisas novas, porque eu acho que tudo isso agrega uma base, um background de entendimento de esporte, tudo isso te dá alguma visão de até onde tu pode ir, como tu pode evoluir até o esporte seguinte.

BNews Natal - E o seu amor pelo mar, porque além de praticar esportes, você também foi apresentador de um programa de televisão, o Warterman, no canal OFF, e você passava meses viajando mar afora, em outros países, como é que foi essa experiência com o programa?

Kauli - Ah, isso aí foi super legal. Eu digo que ali foram os anos prime da minha carreira. Porque competia puxado... Mas tu conseguir viver como atleta, fazendo o que tu realmente gosta, que era pegar altas ondas, viajar pra lugar paradisíaco, consegui viajar com a minha esposa junto, que é a Nana, que também ela entrou na história do programa com a cenografia... então foram anos especiais. A gente conseguiu gravar 5 temporadas, então sempre na nossa baixa temporada aqui de trabalho, que a gente tem o clube, a pousada, em São Miguel do Gostoso, aí dava uns meses de baixa temporada que o vento caía, tinha menos movimento, a gente viajava. Aí muitas vezes a gente acabou indo pro lado do Pacífico, pegava lugares incríveis, procuramos muitas vezes fazer embarco, que a gente gosta de ficar a bordo... foram anos inesquecíveis

BNews Natal - Parou porque veio a Keala (filha)?

Kauli - "Veio a nossa bebezinha, aí a gente teve que ficar mais em casa."

BNews Natal - Você conhece o mundo, você é uma celebridade do esporte, um tricampeão mundial, é de Florianópolis... Como é que chegou aqui, no Rio Grande do Norte? Como desembarcou em São Miguel do Gostoso e escolheu esse lugar pra vir morar aqui, montar aqui seus hotéis, seus kite centers... ?

Kauli - O Rio Grande do Norte tem uma posição geográfica muito especial. Touros (vizinho a Gostoso) é a esquina do Brasil.

"A gente diz que é onde o vento faz a curva. Então, bem naquele lugarzinho alí, num raio de 20 km, tem praticamente vento o ano todo, pro lado do sul ou pro norte sempre tem vento."

E se vier até Soledade, mais uns 100 km de distância, a alta temporada de ventos se estende até março. Enfim, a gente tem pelo menos 8 meses no ano com vento muito bom, água quente, sol o ano inteiro...Eu que queria trabalhar com esporte, com a galera do velejo, era o lugar perfeito. Com uma janela enorme de vento.

BNews Natal - Você começou lá em São Miguel do Gostoso e agora estamos aqui nesse paraíso, Soledade, no município de Macau. Fala um pouquinho agora sobre o trabalho, como é a rotina como um empreendedor e também um atleta.

Kauli - Hoje em dia, eu tô numa fase muito boa da vida. Graças a Deus. Na época que eu era atleta, sempre tava naquela gangorra. Não sabe se vai ou não vai. É muito competitivo. É super puxado. Acredito que em todos as profissões deve ser um pouco assim... Mas a vida de atleta, ela tem uma duração curta. Então, tu tem que aproveitar aquele momento e eu sempre tive esse foco: toda a grana que eu ganhar, eu vou reinvestir, vou reinvestir. Então, apesar de meus pais, claro, eles tinham uma condição financeira ok, mas a gente não tinha o que a gente conquistou hoje em dia. Então, isso aí tudo, eu agradeço muito ao esporte. Que eu consegui conquistar grande parte do que eu tenho pelo esporte.

BNews Natal - Mas hoje você ainda compete e se divide...

Kauli - É, eu participo de competições de Wind Foil hoje em dia, que é um esporte que eu tô apaixonado. Eu ainda comentei com um amigo meu, e falei “cara, eu acho que eu tô tão fissurado que nem quando eu tinha 15 anos começando no windsurf. Porque é tudo novidade, é um esporte novo que vem crescendo e eu tô apaixonado pelo Wing. Agora é minha paixão, só que hoje em dia eu consigo fazer de um jeito leve. Não digo quando eu quero, porque eu quero todo dia, porque eu adoro velejar...Mas, assim, não tem aquela obrigação que eu preciso ser o melhor. Não! Eu preciso pegar onda, me divertir, fazer o que eu gosto, que tá bom, entendeu? Isso é legal. Fui campeão brasileiro no passado de Wave. E, assim, participo das regatas que eu tô afim de ir, entendeu? Mas leve hoje em dia.

Bnews Natal - E divide o tempo entre ser o marido da Nana, o pai da Keala e o administrador de todos esses empreendimentos.

Kauli - É, a fase nova, né? E essa parte toda de administração da pousada, enfim, do kite, né? Isso aí requer realmente um tempo e muita dedicação. E é tudo novidade pra gente, né? Ou era novidade, porque hoje em dia a gente já tá tirando de letra. Mas foi legal. Eu acho que a minha família, nesse ponto, ajudou demais. Meus pais inicialmente vieram pra São Miguel e estenderam a mão. Largaram as coisas que eles tinham em Floripa pra me ajudar a fazer a pousada. Minha mãe administrando o clube, a pousada também. Depois a Nana, logo em seguida, depois de um ano que eu vim pro Rio Grande do Norte, a minha esposa também já abraçou a ideia. Veio trabalhar na área de oceanografia aqui. Aí depois já também entrou na história do empreendimento com a gente. A gente abriu outra pousada, eu e ela junto. Ela que administra, gerencia super fera. Então é isso, eu falo pra eles, ó, eu pego a parte divertida que é ficar na aula com os clientes. Vocês fazem a parte de papelada.

BNews Natal - Pra gente encerrar, uma mensagem do nosso tricampeão mundial, Kauli Seadi, para os jovens que estão conhecendo os esportes aquáticos, que estão ingressando aí nesse mundo.

Kauli - A mensagem que eu digo é, pô, entrem nos esportes. Esse mundo dos esportes é fantástico. E principalmente essa galera que tá aqui na região do Rio Grande do Norte, vocês têm condições incríveis de vento. Acho que uma das melhores do mundo. Então não percam essa oportunidade de velejar no quintal da casa de vocês, hein. É isso.

Classificação Indicativa: Livre


Tags Rio grande do norte São miguel do gostoso Wingfoil Esportes aquáticos Stand up paddle Tricampeão Kauli seadi Foil Waterman Kite Windsurf

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