Cidades
Publicado em 14/08/2025, às 08h41 Dados alarmantes mostram que, sem radares, o custo social de acidentes pode aumentar significativamente. - Divulgação Dani Oliveira
Desde o último 1º de agosto, motoristas que trafegam por rodovias federais passaram a encontrar menos fiscalização eletrônica. O motivo: o corte de R$ 31,3 bilhões no Orçamento de 2025, que reduziu drasticamente os recursos do Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade (PNCV).
O orçamento anual do programa despencou de R$ 364,1 milhões para apenas R$ 43,36 milhões, valor insuficiente para manter contratos de operação dos radares que cobriam 66,1 mil quilômetros de estradas, incluindo cerca de 14 mil km de trechos concessionados e 2.970 faixas monitoradas.
De acordo com nota técnica da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), o PNCV é “instrumento imprescindível” para cumprir as metas do Pnatrans (Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito). Um despacho interno reforça que a paralisação “expõe a população ao risco de mortes e lesões” e pode abrir espaço para ações judiciais contra autoridades.
Estudos indicam impacto bilionário
Levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que o excesso de velocidade é uma das principais causas de acidentes fatais. Em 2014, somente nas rodovias federais, os sinistros custaram R$ 12,8 bilhões — valor que, corrigido pela inflação, mostra o abismo entre o custo social e os atuais recursos destinados ao programa, que representam apenas 0,19% desse montante.
Ainda segundo o estudo, 62% das perdas estão ligadas a vítimas — gastos com saúde e perda de produtividade — e 37,4% a danos materiais, perda de carga e remoção de veículos.
Infrações crescem sem registro
Sem os radares, aumentou o número de infrações que deixam de gerar multas. Dados da Abeetrans (Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito) mostram que, em uma amostragem de 201 faixas, houve crescimento de 802,55% nas violações não registradas, somando 17 mil casos até 12 de agosto.
A associação lembra que, em 2024, as rodovias federais registraram 6.160 mortes e 53 mil feridos em acidentes. Ainda não há dados consolidados sobre o impacto da suspensão, mas a preocupação é crescente diante de números já considerados alarmantes.
Pressão por liberação de verba
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) continua responsável pela análise das imagens e aplicação de multas, mas o serviço está parado. A Abeetrans enviou pedido à Casa Civil para liberar R$ 180 milhões em orçamento extraordinário, ainda sem resposta.
O MPF (Ministério Público Federal) também foi acionado e solicitou explicações ao Dnit, embora o prazo dado de 20 dias seja visto como longo para um problema que envolve segurança viária.
O Bnews Natal procurou o DNIT no Rio Grande do Norte para comentar o caso, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Radares nas rodovias federais do RN
O Rio Grande do Norte conta atualmente com 94 radares eletrônicos fixos instalados em trechos estratégicos de suas rodovias federais. Os equipamentos, popularmente conhecidos como “pardais”, estão distribuídos pelas:
• BR-101
• BR-110
• BR-226
• BR-304
• BR-405
• BR-406
• BR-427
A vias integram o Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade (PNCV), coordenado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Esses dispositivos atuam de forma automática, registrando excessos de velocidade e contribuindo para a redução de acidentes em pontos críticos. Além da estrutura fixa, o estado também conta com radares móveis — portáteis — operados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que podem ser deslocados para diferentes trechos conforme a necessidade.
Fiscalização reforçada em trechos críticos
Em agosto de 2025, a PRF divulgou uma atualização da lista nacional de 2.772 trechos críticos onde há previsão de uso dos medidores de velocidade portáteis. A relação inclui segmentos das rodovias federais que cruzam o RN, priorizando áreas com histórico de acidentes graves ou alto índice de motoristas acima do limite permitido.
A combinação entre radares fixos e móveis tem como objetivo tornar a fiscalização mais dinâmica, ampliando a cobertura em locais onde a imprudência ao volante ainda é um problema recorrente.